De volta, com muita seriedade
Fiquei em "off" durante dois meses, em função de estar com o tempo totalmente tomado por causa da crise na Unimep (ameaça de demissão, atraso nos salários, redução dos salários e outras coisas não muito agradáveis). Mas passado o turbilhão e entre mortos e feridos, estou de volta.
Tenho discutido muito nas aulas que ministro no Programa de Pós Graduação da ECA/USP os problemas da globalização, da midiatização da sociedade, do impacto das novas tecnologias, etc. As discussões sempre caminham para um viés um tanto niilista e noto, em alguns textos, uma certa frustração pela incapacidade de um pretenso projeto civilizatório iluminista continuar tendo repercussão na maioria da sociedade. Lendo alguns comentários de jornalistas que não conseguem entender como que o atual presidente Lula continua subindo nas pesquisas apesar da artilharia pesada que sofre da mídia a mesma indagação. Lúcia Hipólito, comentarista da CBN e colaboradora de vários órgãos, se desesperou em uma coluna: "mas será que a população não está entendendo o que estamos dizendo?". E o Clóvis Rossi, coitado, mergulhou de vez no bordão eurocêntrico e burguês de que este país não é sério, se fosse em outro país, a coisa seria diferente... Entre tantas bobagens que Caetano Veloso fala, lembro de uma coisa genial que ele disse em entrevista na revista Veja: "Os que falam mal do Brasil são justamente aqueles que fazem mal ao Brasil - é o cara que não respeita regras de trânsito, que joga lixo na rua, que leva o cachorro para passear e defecar nas vias públicas, etc."
Bem, quem são estas pessoas céticas, descontentes com o Brasil e que não conseguem entender o povo? Quem são estes que ficam doidos com o fato do país parar por causa da Copa do Mundo, que acha que o povo é ignorante, que este país não é sério e que considera que uma pergunta do presidente Lula se o atacante Ronaldo está gordo ou não gerou a "maior crise da história na relação entre presidente e Seleção Brasileira"?
É uma classe média que perdeu o rumo, que descobriu que não forma opinião coisa nenhuma (nada mais irrita estas pessoas que segmentos populares tenham autonomia de pensamento, imagina só como pode "a minha empregada pensar do jeito que ela quer e não levar em consideração o que eu acho?") e também, como Regina Duarte, está com medo de ter que reduzir sua "cidadania comprada" - os planos de saúde, as escolas particulares, o carro último tipo, o clube legal que garantem direitos fundamentais de qualquer cidadão (educação, saúde, transporte, lazer) como privilégios seus. São estes mesmos que, com vergonha de dizer que eram contra os CEUs da Marta para não ficar com pecha de elitistas, partiram para uma discussão "academicista", "teórica" para questionar a "eficácia pedagógica" do projeto da ex-prefeita. Ninguém falou do fato de que tal projeto proporcionou às mães da periferia uma certa tranquilidade ao saber que seus filhos não estavam na rua enquanto elas tinham que trabalhar. E que os dados mostraram que houve uma redução significativa da violência nos bairros em que os CEUs foram instalados. Mas isto é besteira, é rebaixar a discussão.
O filósofo Michel Serres disse em uma entrevista em 2000 que a pior coisa para o ser humano é pertencer a poucos grupos, poucos círculos de relação - sua identidade empobrece. É isto que acontece nestas corporações fechadas. As pessoas olham o mundo a partir do seu estreito círculo. São incapazes sequer de dialogar com o diferente. Criticam a violência mas o comportamento deles é tão intolerante quanto. O mais grave de tudo isto é que são lideranças, pessoas que tem o privilégio de repercutir idéias na sociedade - jornalistas, comentaristas, etc. Enquanto isto aquela mãe que mora em São Mateus e estava aliviada porque poderia trabalhar e seu filho frequentar a piscina do CEU tem que engolir "pedagogos" dizendo que não há um projeto pedagógico no CEU. Ou o sertanejo no Nordeste que recebe o Bolsa Família e pode, finalmente, comprar o que quer na venda da esquina, ouvir "comentaristas" dizendo que este país não é sério.
Sinceramente, quem não é séria é a nossa classe média.
Escrito por: Dennis
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